16/10/2007

Alexandre O'Neill


Belíssimo documentário "Tomai lá do O'Neill" de Fernando Lopes, esta noite na RTP 2. Testemunhos comoventes de António Tabucchi e Gérard Castello-Lopes, poemas ditos por Rogério Jacques, Mário Cesariny, Mário Viegas.
Mais de vinte anos depois da sua morte O'Neill ainda conseguiu pregar uma partida: gravei o programa em vídeo, no meio ouvi de repente o jingle da publicidade institucional e num reflexo carreguei no botão "pausa". Assim não registei as famosas piadas publicitárias: "Vai de Metro, Satanás" e "Ele não merece, mas vota no PS". Tanto a administração do Metropolitano como a direcção do partido político não gostaram (obviamente). Como também não ficou entusiasmado um conhecido fabricante de electrodomésticos quando O'Neill lhe sugeriu o slogan: "Bosch é brom!" (não incluido no documentário...).
Aqui o poema dito por Mário Viegas:
Inventário
Um dente d'ouro a rir dos panfletos
Um marido afinal ignorante
Dois corvos mesmo muito pretos
Um policia que diz que garante
A costureira muito desgraçada
Uma máquina infernal de fazer fumo
Um professor que não sabe quase nada
Um colossalmente bom aluno
Um revolver já desiludido
Uma criança doida de alegria
Um imenso tempo perdido
Um adepto da simetria
Um homem que ri de tristeza
Um conde que cora ao ser condecorado
Um amante perdido encontrado
Um gafanhoto chamado surpresa
O desertor cantando no coreto
Um malandrão que vem pé-ante-pé
Um senhor vestidíssimo de preto
Um organista que perde a fé
Um sujeito enganando os amorosos
Um cachimbo cantando a marselhesa
Dois detidos de fato perigosos
Um instantinho de beleza
Um octagenário divertido
Um menino coleccionando estampas
Um congressista que diz Eu não prossigo
Uma velha que morre a páginas tantas

1 comentário:

xistosa, josé torres disse...

Somos pequenos!
É a nossa vida, mesmo que se prolongue para lá das intempéries ...
Temos sorte, nunca mais morreremos !!!