14/01/2007

Gravidez musical não desejada



Os numerosos comentários suscitados pelos posts anteriores do nosso estimado colega Dr. Rui põem em evidência a necessidade de abrir uma Urgência no "Consultório Musical" para casos de gravidez musical não desejada.

Escolhemos aproveitar uma sinalização da Associação para o Planeamento da Família, pois confiamos que os/as utentes possuam o discernimento para fazer uma autodiagnose prévia e depois decidir (conforme o seu estado clínico específico) se quiserem dirigir-se aos nossos serviços ou antes à APF. No entanto, em caso de dúvida os nossos médicos Dr. Partituras e Dr. Contratempos indicarão de bom grado o caminho certo.

20 comentários:

Carol disse...

virei mais vezes.
como anacruses chegou ao olharesbugalhado?

Anónimo disse...

Este tema faz-me lembrar o primeiro grande filme de culto de David Lynch "Eraserhead", onde o jovem Henry Spencer tenta sobreviver num ambiente industrial deprimente, enfrentando uma paternidade iminente do que se revela um bebé mutante. A música a condizer é: "In heaven everything is fine" cantada no filme pela "Lady in the Radiator". Fragmentos a ver no YouTube para gente com estômago forte...

main mense disse...

na gravidez musical não desejada até quantas notas é que poderei abortar legalmente?

Rini Luyks disse...

Caro Main Mense,

Aqui temos um assunto delicado...
Parece mais sensato, como na sondagem aqui ao lado, formular esta pergunta em termos de COMPASSOS de gestação em vez de NOTAS. Caso contrário, o legislador já não tem mãos a medir, vejá lá: por exemplo, um conjunto como a Fanfare Ciocarlia, apelidado de "banda mais rápida do mundo" não se importa de comprimir umas dezenas de notas num compasso de, vá lá, 2 por 4, ao passo que no canto dos monges tibetanos uma nota só se prolonga habitualmente durante uns sete, oito compassos, essa gente não tem pressa. Monges ocidentais de visita ao Tibete e numa boa onda de "vamos fazer um bocadinho de intercâmbio cultural" já provocaram tonturas aos colegas orientais com as suas cantigas em breves e semibreves! A maior preocupação dos guarda-costas do Dalai Lama exilado não são os possiveis atentados de mão armada, não, não, são os atentados sonoros! Homenagens à Sua Santidade mediante um concerto pop ou rock estão por isso completamente fora de questão, seria um tiro de canhão a matar uma mosca, passa a expressão algo irreverente...(por acaso simpatizo com o Dalai Lama).
Bom, estamos a desviar um pouco do assunto da sua pergunta caro Sr. Main Mense (ou Sra.!?, gostariamos de estabelecer relações um pouco mais próximas com comentadores/as mais assíduos/as, por isso s.f.f. não se coíbe de revelar a sua identidade!). Como já deve perceber: tal como nos casos de gravidez humana não desejada, o prazo legal de um aborto musical é uma questão ainda em aberto, é por isso que o nosso colaborador propõe a já referida sondagem aqui ao lado. Aliás, aproveito para tecer uma pequena crítica: na minha opinião a inclusão de possíveis respostas de múltipla escolha do género: "Vai mas é trabalhar" ou "É tudo o mesmo" não é muito prestigiante para este inquérito e pode até falsificar os resultados (para já registo uma votação em maioria relativa na resposta pouco elucidativa "Vai mas é trabalhar").
Simplesmente "Sim", "Não" ou "Não sei" seria para mim escolha suficiente, mas bom, os dados já estão lançados.

Anónimo disse...

Caro anfitrião Sr. Rini,

Embora apreciando as suas opiniões, eu preferia, e julgo falar também em nome do meu colega Dr. Partituras, que você deixasse os pareceres e conselhos médicos nas mãos dos peritos. Muito obrigado!

Gi disse...

Dr. Rui :O), não sei se Dr. Contratempos ou Dr. Partituras...
Vim retribuir a visita, não tenho cartão de utente, mesmo assim posso vir às consultas?
Resto de um bom Domingo.
Siga a música

Rui Rebelo disse...

Seja bem-vinda gi.
Aqui não é necessário cartão de utente. No anacruses até os anónimos têm direito a consultas e seuas respectivas prescrições. Temos 2 especialistas prontos para trabalhar a qualquer momento.
Se necessitar de dos nossos serviços dirija-se ao nosso consultório musical e será atendida o mais rapidamente possivel.
Vá aparecendo.

Rui Rebelo disse...

caro main mense,

A questão legal deve ser ajustada a compassos e, como tal, será facilmente contornável pois podemos trancrever qualquer preludio de bach para em doze compassos, colocando todas as suas notas num andamento larghissimo (ou mesmo gravissimo) num compasso de 32 por quatro. Se por acaso ainda faltarem notas podemos por o compasso em 64 por 4. Esta será a forma legal de poder abortar uma obra inteira, coisa que não aconselho pois pode causar a esterilidade musical.

Anónimo disse...

Caro Rini,

Penso que a questão de acolher, no nosso consultório, casos de gravidez musical não desejada dependerá da lei da IVIM (interrupção voluntária da Ideia Musical.

Preocupam-me agora os casos de infertilideade musical temporária que afectam muitos compositores por este munso fora...

main mense disse...

Eminentes drs.
è com enorme apreço que recebo os vossos diagnósticos relativamente às minhas dúvidas e possíveis sintomas.
Já estou mais descansado e mesmo aliviado. Devo confessar-lhes que estou surpreendido não só pela originalidade como pela acutilância com que respondem às minhas perguntas.
Para responder aos anseios do dr. rini luyks, main mense é sinónimo de território masculino povoado por todos os clichés e lugares comuns que assistem a esta condição. Em termos de etimologia, mense é uma síntese vocal que pretende ilustrar os novos sotaques emanados desse mundo novo e maravilhoso que é o subúrbio. Mense deriva de man, muito utilizado pelos nossos jovens como prefixo e sufixo das suas construções verbais, por vezes indecifráveis, contudo cada vez mais cosmopolitas. O "man" evolui para "mens" por forma a não excluir indivíduos preguiçosos e com pouca curiosidade por idiomas estrangeiros e o "mense" surge como uma espécie de emancipação da chungaria: estamos a dizer mal "man" então vamos assumi-lo de uma vez por todas e criar uma expressão muito nossa - este foi a sentença que me passou pela cabeça ao encarnar este curioso sub-grupo da nossa sociedade e com uma expansão cada vez maior.
"Main" é apenas uma espécie de malagueta para apicantar este universo.
Não sou músico enm sequer tenho qualquer formação nessa área, mas sou um grande praticante de ouvido. Daí a minha pergunta ingénua com a medição em notas e não em compassos, pergunta totalmente esclarecida por vós.
O meu gosto musical é bastante eclético. Este ecletismo não será uma qualidade. Deverão considerá-lo como uma espécie de oportunismo musical.
Estarei sempre atento ao vosso blog para tentar desenvolver o meu ouvido e os consequentes impulsos que ele transmite e deverá transmitir para o meu cérebro.
Bem hajam e um sincero abraço

Anónimo disse...

caro main mense,

obrigado pelo seu comentário esclarecedor e bem disposto.
Nós por aqui somos apologistas que o bom humor é a primeira condição para se conseguir sobreviver com dignidade e prazer neste mundo cada vez mais (náo vou escrever o resto senão passava aqui a tarde toda)

vá aparecendo,

um abraço

Sónia Monteiro disse...

A propósito de: http://filtragens.blogspot.com/2007/01/no-7-convictamente-no.html#comments

Caro Rui,
concordo quando fala em "aborto intelectual" feito por um grande número de campanhas! Tenho visto, infelizmente de ambas as partes, comentários, afirmações, imagens chocantes e ridículas que põe em causa a seriedade, independência e sensatez com que este assunto deve ser tratado! Entendo, no entanto, que as campanhas devem existir e são necessárias, desde que se tratem de campanhas independentes de cidadãos LIVRES que não querem fazer desta mais uma questão política!

Nuno Guronsan disse...

Um consultório musical ao qual penso voltar várias vezes. Afinal de contas, há doenças que são bem-vindas...

E já agora, obrigado pela visita lá pelo meu burgo. Saudações musicais.

Anónimo disse...

Caro Nuno,

Tomo várias vezes o seu apelido em manhãs de boca pastosa.

Vá aparecendo por cá seja para consultas, seja para dizer o que lhe apetecer ou apenas rir um pouco.

cumprimentos anacrusicos.

Rini Luyks disse...

Caro Main Mense,

Obrigado pela sua explicação etimológica que não deixa de despertar a minha curiosidade. De facto, a palavra "mens" significa na minha língua materna, o Holandês: "ser humano" desde que precedida pelo artigo definido masculino/feminino "de", ou seja: "de mens" = "o ser humano". No entanto, precedida pelo artigo definido neutro "het", a palavra "mens" quer dizer "ser humano FEMININO", num sentido bastante pejorativo.
A prática de expressões idiomáticas como "Ach mens, schei toch uit!" ("Ó ser humano feminino (vulgo: mulher), pára com isso"!) ou pior "Ach mens, hou je bek!" ("Ó ser humano feminino (vulgo: mulher), cala o bico!") são os primeiros indícios de um certo mal estar no seio familiar, lamentavelmante muitas vezes desembocando numa ou noutra forma de violência doméstica (situações com certeza também do conhecimento da no post acima referida APF e a organização congénere holandesa...). Não queria aqui insistir neste lado negro da convivência humana, mas recentemente um cabeçalho num jornal chamou a minha atenção: "Violência entre gays não é reconhecida". Aqui a transcrição do artigo: "O crime de violência doméstica não pode ser aplicado a casais homosexuais porque assenta na superioridade física e porque o casamento homosexual não está previsto no Código Civil, declarou a Associação de Juízes. A Associação de Defesa dos Direitos dos Homosexuais (ILGA) contesta esta posição, porque ignora a lei das uniões de facto de 2001, que reconhece casais gay" (Diário Metro, 21 de Dezembro 2006).
Sem comentário...

main mense disse...

Eminente Dr. Rini Luyks...
Acabou de introduzir uma farpa no meu alter-ego virtual. 1 questão premente se levanta de imediato: Será que nos nossos queridos e originais subúrbios se pratica um "street talk" oriundo da Holanda? E será que os "opinion-makers" ou se quiser os "trend-setters" dos subúrbios são essencialmente mulheres?
Espero sinceramente que sim. Primeiro porque visitei o seu país à cerca de 2 anos e achei encantador e em segundo lugar já é tempo das mulheres começarem a mandar para ver se isto anima.
Um abraço

Anónimo disse...

Caros Doutores Partituras e Contratempos,

Estou com um problema de consciência, preciso urgentemente do seu conselho. Esta manhã a minha agência telefonou-me para eu ir fazer um casting para uma telenovela chamada "Morangos com açucar". Desconheço o conteúdo deste programa, mas agora estou preocupado, lembrando-me de um comentário ao post "O Aborto Musical" de 8 de Janeiro, onde o Sr. Rui Rebelo qualifica o CD desta telenovela como "um verdadeiro aborto musical".
Receio agora que um eventual contacto directo com as pessoas que produziram este aborto me possa fazer mal. Senhores Doutores, acham que corro o risco de uma gravidez musical indesejada e involuntária, como resultado de uma possível violação por ideias musicais monstruosas? A questão é que o trabalho dá bom dinheiro, mas não sei se este dinheiro paga um eventual trauma vitalício depois (ainda por cima uma Lei para Despenalização do Aborto ainda não está em vigor neste país...). Que devo fazer, caros senhores?

Anónimo disse...

Caro Palhaço do Xadrez,

Penso que deverá aceitar o trabalho.
Bem vistas as coisas não o devem obrigar a ouvir o cd. E mesmo que o façam o cheque dá para ir à FNAC enfrascar-se em medicação de qualidade.
Estou a desenvolver um medicamento novo contra algumas doenças musicalmente transmissiveis. Poderá testá-lo se ocorrerem sintomas indesejados após o trabalho realizado.
Boa Sorte.

Rini Luyks disse...

Caro Main Mense,

Desde há uns meses ando com uma banda musical cujos membros vivem nos arredores de Sintra. De facto, em sessões espontâneas de hip-hop, o "street-talk" deles contém frases que acabam muitas vezes com palavrinhas do tipo "iââââ" ou "iôôôô", tal como na Holanda! Agora, as fêmeas a tomar conta da cena, isto ainda não estou a ver para já, nêêêê.... (mas que animava, animava sim senhor!)

Rini Luyks disse...

Caro Rui,

(Em relação ao teu comentário do dia 14 às 22:29 h): espreitando os resultados provisórios da votação na sondagem aqui ao lado (sobre uma eventual penalização da IVIM - Interrupção Voluntária da Ideia Musical) e eliminando as respostas que não interessam, registo que até agora (dia 17, 15:00 h) dois terços dos votantes NÃO EXCLUEM uma eventual penalização: ou votam "sim" ou (em maioria) "depende da ideia".
Ainda é cedo para tirar ilações, mas pessoalmente espero bem que esta tendência não "se transmita" para o Grande Referendo sobre o Aborto em Geral. Caso contrário vaticino um Chafurdar num Pântano de Trevas por tempo ilimitado...